quinta-feira, 25 de julho de 2013

E-mails com José Trindade Santos - Filosofia






L.B.T. : Umas questões. Algumas creio já lhe ter posto por outras palavras numa das duas entrevistas. 
a) Considera alguma dimensão espiritual no Poema de Parménides? b) Em que medida a sua leitura poderá ir ou não nesse sentido? c) Por outro lado - isto não é uma provocação mas uma curiosidade - a sua leitura de Parménides poderá ou não ter alguma aplicação, digamos, na compreensão do real dos nossos dias? Quer dizer, no modo de pensar ou numa certa emergência a pensar diferente hoje? Isto tendo em conta, de certa maneira, a antepredicatividade como a recusa a um pensar e agir que se caracterizam por um uso excessivo das coisas, das ideias, muito herdeiro, talvez, da predicatividade constitutiva da tradição do pensamento ocidental-europeu ainda não suficientemente pensado na contemporaneidade. Numa palavra, e para ser mais directo, de que modo o seu pensamento poderá ter alguma aplicabilidade, embora outra, na realidade, no Real, etc.? E se não tem como é que não tem? Qual a sua actualidade?

20/07/2013

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J.T.S. : Esta é das séries de perguntas mais complicadas que V. me enviou.
a) Considera alguma dimensão espiritual no Poema de Parménides? 
Não. Ela está lá, como mostrou K. Rheinardt, em 1916. Mas não me interesso por ela.
b) Em que medida a sua leitura poderá ir ou não nesse sentido? 
Não vai nesse sentido, mas no de uma abordagem lógica e epistemológica do argumento de P. e das consequências que teve na tradição grega. Interessa-me apenas o P. recebido pelos outros pensadores. Essa recepção incide no modo como a argumentação eleática foi acomodada é estrutura doutrinal dos pensadores que a recebem. 
c) Por outro lado - isto não é uma provocação mas uma curiosidade - a sua leitura de Parménides poderá ou não ter alguma aplicação, digamos, na compreensão do real dos nossos dias? Quer dizer, no modo de pensar ou numa certa emergência a pensar diferente hoje? Isto tendo em conta, de certa maneira, a antepredicatividade como a recusa a um pensar e agir que se caracterizam por um uso excessivo das coisas, das ideias, muito herdeiro, talvez, da predicatividade constitutiva da tradição do pensamento ocidental-europeu ainda não suficientemente pensado na contemporaneidade.

P. está presente, mas oculto, no nosso modo de pensar. Há muitos argumentos n.predicativos subsistentes (p. ex. E. Gettier
e os efeitos que o seu artigo de 1964 (?)), como muita bibliografia atesta (v. os PhilPapers). Mas, para mim, o maior interesse da a/p é histórico-filosófico, no que concerne a uma alegada "epistemologia grega arcaica".
d) Numa palavra, e para ser mais directo, de que modo o seu pensamento poderá ter alguma aplicabilidade, embora outra, na realidade, no Real, etc.? E se não tem como é que não tem? Qual a sua actualidade?
Na linha da Fenomenologia, a a/p foi tratada por Husserl, num sentido cognitivo, e por Heidegger, num sentido ontológico e antropológico. Não me interesso por esse interessantíssimo aspecto da a/p. Fale com o Prof. Pedro Alves!


20/07/2013

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