quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Anotações várias - 1



"Não somos nós que falamos, mas a fala (sprache) que nos fala"
Heidegger


1. E se o falar fosse, antes de mais, ouvir?

2. Se procuramos o que está antes (por exemplo, o princípio), porém, já o pomos depois.

3. Primeiro ouvimos a fala. É o caso da nossa aprendizagem da fala, quando crianças. Assim, primeiro ela começa a falar em nós. Por isso, falar é, antes de mais, ouvir.

4. Mas depois, quando já falamos? Não será que o ouvir continua antes?

5. Ou ouvir e falar também já são outros?

6. E escutar não será fusão de ouvir e falar? Escutar é ouvir com atenção, como alguém disse.

7. Pode-se, no entanto, continuar a considerar o ouvir e o falar, cada um, de cada vez, enquanto tal.

8. Todavia, já de um outro modo que não o anterior regime do binómio ouvir / falar.

9. Retomando a epígrafe de Heidegger: "Não somos nós que falamos, mas a fala (sprache) que nos fala." Diríamos ainda que, ao falarmos, ouvimos, ou melhor, escutamos a fala.

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10. Estamos sempre a querer sair daqui (do presente - no tempo, implicando também o lugar). Porquê? Porque o estar aqui, enquanto tal, implica, por seu turno, o não estar aqui num momento ou num dia qualquer a vir. Precisamente com a morte. Por isso, o nosso estar aqui é um estar como se não se estivesse. Ou um estar a meio-termo, a meio-gás. É por isso que importa reforçar o estar aqui, mediante a palavra que reitera. A palavra, a linguagem que permite a constatividade realizadora. Um desdobramento da linguagem. Mas também avivar o retiro, o daquele "sair daqui", para que, esse mesmo movimento de retiro, nessa condição de recuo desdobrado, garanta um avanço em tensão vital.
Mas, mais originariamente, e noutra compreensão, poderemos evocar o exemplo do Buda quando na "contemplação do corpo" (kâyânupassanâ) e na "atenção à respiração" (ânâpânasatti), é indicado: "[o monje] ao fazer uma aspiração longa, sabe: "Faço uma aspiração longa"; ao fazer uma expiração longa, sabe: Faço uma expiração longa"; etc. etc.(Nyânatiloka Mahâthera, La Palabra del Buda, Barcelona, Indigo, 1991, p.78).

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