segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Bartleby – o escrivão … ou o “copista”… por Herman Melville I would prefer not to

Bartleby – o escrivão … ou o “copista”… por Herman Melville

I would prefer not to

esta mensagem foi primeiramente publicada no nosso mural do facebook...

excerto (para quem tenha pachorra de ler)… este foi hoje transcrito (copiado) para o word… mas deu gozo…calmamente e com exactidão, partilhando e relendo… depois copiar-colar…

“Poucos dias depois Bartleby terminou quatro extensos documentos, quadruplicado de depoimentos feitos perante mim [homem de leis – narrador], durante uma semana, no exercício das minhas funções no High Court of Chancery. Era necessário conferi-los. Tratava-se de um processo importante, exigia-se a maior exactidão. Tendo tudo preparado, chamei Turkey [Peru], Nippers [Tenazes] e Ginger Nut [(Bolo) de Gengibre] [“dois copistas – escrivães – e um moço de recados”], da outra sala, com o intuito de pôr cada uma das quatro cópias nas mãos de cada um dos meus quatro empregados, enquanto que eu leria o original. Já Turkey, Nippers e Ginger Nut tinham ocupado os seus lugares, cada um com o respectivo documento na mão, quando chamei por Bartleby, para que se juntasse a este interessante grupo.

– Bartleby! Depressa, estou à espera!

Ouvi o lento arrastar dos pés da cadeira no soalho nu, e pouco depois ele surgiu, de pé, à entrada do seu refúgio.

– O que é preciso? – perguntou calmamente.

– As cópias! As cópias! – exclamei eu, apressadamente. – Vamos conferi-las.

– Ali! E estendi-lhe uma quarta cópia.

– Preferiria de não [“I would prefer not to”; ou, p. ex., “preferiria não o fazer”] – respondeu, desaparecendo calmamente por trás do biombo.

Durante alguns instantes, vi-me transformado num pilar de sal, de pé à cabeça da minha coluna sentada de empregados. Recompondo-me, dirigi-me ao biombo, e inquiri da razão de tão extraordinária conduta.

– Por que se recusa? [“Por que” está em itálico, mas no FB não dá…]

– Preferiria de não.

Com qualquer outro indivíduo, ter-se ia apossado de mim uma cólera terrível, e sem gastar sequer mais palavras, tê-lo-ia enxotado ignominiosamente da minha presença. Mas havia qualquer coisa em Bartleby que não só estranhamente me desarmava, como também, de um modo singular, me tocava e desconcertava. Comecei a argumentar com ele.

– São as suas próprias cópias que vamos conferir. É trabalho que lhe poupamos, visto que bastará conferir uma vez. É prática comum. Todo o copista é obrigado a ajudar a conferir as suas próprias cópias. Não é assim? Mas não fala? Responda!

– Prefiro de não (“I prefer not to”) – respondeu, numa voz aflautada. Pareceu-me que, enquanto eu lhe falava, ele ia considerando cuidadosamente tudo quanto eu dizia; apreendendo completamente o sentido; e sem poder negar a inevitável conclusão; mas, ao mesmo tempo, uma qualquer consideração suprema o levava a responder como o tinha feito.”

[continua]

Herman Melville, Bartleby – O Escrivão, ed. De Giorgio Agamben e Pedro A. H. Paixão, trad. P. H. Paixão, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007, pgs. 84 e 85.

Vou copiar-colar para um blogue, porque no fb ainda mais rapidamente fica esquecido…






Sem comentários:

Enviar um comentário