domingo, 29 de janeiro de 2017

Continuação António Lobo Antunes “O Manual dos Inquisidores”… excerto II - o que se segue ao anterior excerto I

Continuação António Lobo Antunes “O Manual dos Inquisidores”… 

vide a postagem anterior sobre a obra

“[…] as minhas irmãs e as minhas primas passadas, a contratarem à pressa um advogado que impedisse a dactilógrafa de entrar para a família e herdar os zero vírgula oito do meu pai que elas julgavam que eram vinte e nove e era bom que julgassem e não me moessem o juízo com desconfianças e insinuações maldosas quando tudo o que fiz foi proteger a família e é conveniente, conhecida a obtusa ingratidão dos meus parentes, a família ignorar que está a ser protegida, as minhas irmãs e as minhas primas para mim, cambaleando de medo de se tornarem pobres como os pobres a quem davam camisolas e sopinhas ao domingo, de roda do espertalhão do prior, um vivaço e peras que até nem era feio e não havia ano que não comprasse um BMW novo à minha custa, as minhas irmãs e as minhas primas para mim, a girarem no gabinete num turbilhão de pó-de-arroz.

– E agora?

e eu a despachar processos, exausto daquele ciclone de chantungs (1)

– Aos oitenta anos o pai tem direito a divertir-se um bocadinho como lhe der na gana ou não tem?”

(não continua, é questão de pegar no livro)

(1)   nota minha de rodapé: “chantung” parece ser qualquer coisa como um tecido bastante decorativo, uma certa chinezice, segundo a minha breve consulta no Google…

António Lobo Antunes, O Manual dos Inquisidores, Lisboa, Dom Quixote, 1996, p. 108. X


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